domingo, 6 de novembro de 2011

Educação de Mãe

Sabe, me acho meio ingênua. Não sou bobinha, não tenho vocação para Sandy, e nem, graças a Deus, acredito nas propagandas da Polishop…Já descobri que o coelhinho da páscoa é uma farsa, que Danoninho não vale por um bifinho, e que chocolate diet também engorda. Só ainda não me conformei muito com a história de que Papai Noel não existe. Era a minha última esperança de continuar vendo o mundo do jeito que eu via quando era criança. Talvez assim ele parecesse mais colorido. Mas aprendi também que acreditar em mentiras só colore a imaginação. A gente cresce com o tempo e vai aprendendo a desacreditar em tudo que haviam nos ensinado. Lembro da minha mãe dizendo para sempre respeitar os mais velhos, que não podia chamar a mamãe enquanto estava conversando, e nem se meter nas conversas dos adultos. Não podia brigar com irmãos, primos e nem com os amiguinhos, e que era muito feio não querer devolver o brinquedo do outro, que quando eu quisesse qualquer coisa, podia sempre pedir para mamãe, que ela me daria. Às vezes demorava, mas ela sempre dava um jeitinho. Lembro das coisas que não podia fazer na frente de ninguém: não podia tirar meleca, fazer sapo (arrotar) e nem soltar pum. Se eu me perdesse, que ficasse parada no mesmo lugar, sem medo, porque já mamãe me acharia. Ensinou que deveria vir embora na hora do almoço, que era feio ficar olhando as pessoas comer, e mais ainda deixar alguém me olhando, e que eu deveria sempre dividir. Quando pedir algo, sempre “por favor” e nunca deixar de agradecer, “obrigada” (porque menino fala “obrigado” e menina fala “obrigada”, sabiam?). E principalmente: nunca minta para mamãe, porque “quem fala a verdade, não merece castigo”. Algumas coisas não desaprendi. Continuo não fazendo na frente das pessoas o que é feio, porque ainda sou muito educada, obrigada. Ainda continuo não querendo nada de ninguém. Bom, quase nada. Mas quando me perdia da minha mãe em algum lugar, ficava rosnando procurando por ela, e quando a encontrava, ficava feliz. Mais com medo que alguém me chamasse de medrosa ai eu o xingaria e ficava descontrolada, compulsiva. E lá se foi à educação e o respeito pelos mais velhos. Mas a maioria desaprende o que sabiamente a mamãe ensinou lá nos tempos que ainda acreditávamos em Papai Noel, e do mesmo jeito que ele vira mentira, a gente desacredita na educação das pessoas, no bom senso e respeito. Gente que suja a rua, que desrespeita idosos, trabalhadores ou pessoas humildes. Gente que quer o que o outro tem. Gente que não tem o menor conceito do que é respeito. Basta assistir ao Jornal, e talvez, quem sabe, entrar num processo de Síndrome do Pânico, no meio de tanta informação, que agride nossa sociedade e sensibilidade. A gente leva tanta bordoada, ou vê tanta coisa acontecendo, que passa a ter medo de conviver com as pessoas. Contudo, de todas as coisas que precisei desacreditar para me proteger, o que mais me desapontou foi ter que desacreditar na verdade. De como fui castigada por dizê-la, e de como já usaram minhas verdades contra mim. Quando somos verdadeiros nos expomos, e ficamos vulneráveis àquelas pessoas que roubam tudo que nos é precioso, porque sabem onde guardamos, os nossos mais verdadeiros sentimentos, que é nosso coração. Cheguei a achar que verdades estariam restritas apenas àqueles que a gente ama, e na melhor das hipóteses, a quem nos ama de volta e nos retribui o coração com a mesma sinceridade, principalmente nossa mãe e irmãos, mas também nossos amigos e aquele amor que a gente acha que vai ser para vida toda. Basta as mesquinharias dos outros e notícias do Jornal Nacional. Porém, de uns tempos para cá, descobri que amigos às vezes nos retribuem amizade com mesquinharias e pobreza de espírito; e que aquele amor para vida toda era tão verdadeiro quanto Papai Noel. A sensação que tenho é que guardei as meias que colocava na janela. Acreditar naquele amor para vida toda é olhar para o céu e esperar Papai Noel chegar, com todos os nossos sonhos dentro daquele enorme saco vermelho. A diferença é que quando eu acordava, meus sonhos estavam lá debaixo da árvore. Acho que minha mãe conseguiu me ensinar a ser uma pessoa boa. Ela só esqueceu-se de me ensinar a ser esperta. Talvez tivesse esperanças que eu percebesse que tudo muda quando a gente cresce, e que com o tempo eu aprenderia. Mas gosto de finais felizes, mesmo que não seja em Veneza. Mesmo que a vida não seja em Paris. Mesmo que o sonho acabe. O final feliz dessa história é que mesmo no meio de tantas mentiras e frustrações, eu ainda estou aqui, e confio na Providência Divina.

Um comentário:

  1. Maria
    Que bela cronica!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    Eu nunca havia prestado a devida atenção a essas coisas que você muito bem observou
    Que bela cronica!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    Você tem inteira razão em tudo o que disse.
    Parabéns, aprendi muito com o texto

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