sábado, 26 de novembro de 2011

O Crucifixo de Madeira de Michelangelo

O autor não é o único responsável por uma obra de arte. Ela é também resultado da atmosfera, da cultura, e até mesmo da estrutura física do local onde é criada. Entretanto, a ligação absoluta e inegável entre uma obra prima e sua origem não significa que ela deva ser confinada, ao seu local original. A arte é um bem de todos e a sua codivisão além de um prazer é também um dever democrático. Foi esta a justificativa para que esta obra de Michelangelo passasse uma longa temporada em Turim e Nápoles retornando há poucos anos ao seu local original em Florença onde na Comunidade Agostiniana de Santo Espírito pode ser apreciada de qualquer ângulo de 360º como previam o seu criador para que pudessem ser examinados os seus detalhes, o seu movimento, sua expressividade e o toque extraordinário do escultor Florentino “que eleva e reporta para o infinito”. O visitante tem uma oportunidade de se confrontar com um tesouro do Renascimento muito pouco conhecido. Os responsáveis pelo patrimônio do complexo do Santo Espírito consideram uma “obrigação moral cotidiana” não somente conservar a beleza, mas possibilitar a sua constituição como um modelo vivo e social. Impossível não comparar com o tratamento dado pelas autoridades brasileiras às nossas inúmeras belezas históricas e culturais. Sabemos que um país como o nosso tem, pelas suas dificuldades econômicas, outras prioridades e a preservação do patrimônio moral, cultural, espiritual do seu povo não está entre elas. Este descaso aumenta ainda mais o fosso existente entre o mundo dito civilizado e a selvageria protagonizada por nossos homens públicos preocupados apenas com seus patrimônios pessoais aumentados de uma forma tão escandalosa que a sua enumeração torna-se não apenas enfadonha, mas desestimulante da expectativa de que um dia alguma coisa possa realmente mudar.

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