quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A Origem da Orquídea

Como as flores a orquídea tem uma lenda. Eis a encantadora história, como é contada nas terras da Indochina.Na cidade de Anam, existia uma jovem chamada Hoan-Lan, que divertia-se em fazer penar suas paixões aos seus numerosos adoradores.Por um sorriso,o jovem Kien-Fu tinha cinzelado o ouro mais fino e trabalhado com infinita paciência as mais lindas peças de jade.A ingrata,após se adornar com todos os presentes do nobre apaixonado,riu-se dele e o desprezou.Kien-Fu,desesperado,acabou com a própria vida atirando-se ao Rio Vermelho.O pintor Nguyen-Ba conseguiu obter cores desconhecidas para pintar o retrato de sua amada.Esta,porém,depois de ter exibido para a satisfação de sua vaidade a magnífica pintura,desprezou o artista que desapareceu para sempre no mistério das selvas.Mai-Da,apaixonado também,quis patentear seu amor à jovem volúvel,inventando um perfume delicioso somente digno dos anjos.A ingrata perfumou-se e mandou pôr na rua o seu adorador que,nada mais aspirando na vida,se envenenou.Cung-Le levou sua perseverança a incrustar nácar numa pulseira de ébano que foi recebida pela ingrata.O pobre endoideceu.Mas o poderoso Deus das Cinco Flechas,que a tudo via e tudo ordenava,julgou que era o momento de castigar tanta maldade,fazendo a jovem volúvel apaixonar-se pelo formoso Mun-Cay.E desde então,Hoan-Lan sonhava no seu leito de nácar e sedas bordadas com seu adorado,cujo nome esvoaçava sobre seus lábios de carmim,como uma borboleta sobre a rosa.Ao despertar,descia à piscina,banhava-se e adornava-se com suas jóias mais preciosas para ver passar seu querido Mun-Cay,que apenas se dignava a levantar os olhos para ela.Nunca tinha considerado a formosa jovem,nem se interessado pela fama de beleza que tinha ardido à sua volta.Os dias iam passando,e Mun-Cay não saía de sua indiferença cruel.Um dia,Hoan-Lan decidiu sair-lhe ao encontro e declarar-lhe paixão.Não me interessas,rapariga!- disse ele.- És como todas as outras.Para mim não vales nada.Se fosses como aquela que eu amo...Esta sim,é uma deusa.Tu,mísera Hoan-Lan,com toda tua vaidade,não serves nem para atar-lhe as fitas das sandálias.E,com um sorriso desdenhoso,afastou-se.Em meio de seu desespero,Hoan-Lan lembrou-se do Deus Todo Poderoso que vivia na montanha de Tan-Vien.Talvez ele pudesse lhe valer.Apesar da noite escura e chuvosa,a jovem dirigiu-se ao monte sagrado,onde residia sua última esperança.A entrada do templo subterrâneo era guardada por um terrível dragão.Suplicou-lhe a concessão de entrada e ao cabo de muitos pedidos conseguiu penetrar num extenso corredor,por entre serpentes horríveis que lhe babujavam os pés nus.Quando chegou junto ao trono de ônix do poderoso gênio,prostrou-se e implorou: Cura-me,que sofro horrorosamente.Amo Mun-Cay que me despreza.É justo o castigo - respondeu o deus - Porque isso mesmo tens feito aos teus apaixonados.Ó Todo Poderoso,tem dó de mim.Concede-me o amor de meu querido Mun-Cay.Sabes bem que não posso viver sem ele.Vai-te daqui - rugiu o gênio - Nada conseguirás.O castigo que pesa sobre ti,foi imposto pelo Deus das Cinco Flechas,que tudo sabe.É justo que sofras.Saia do meu templo.Á saída,Hoan-Lan encontrou-se com uma bruxa de pés de cabra.Formosa jovem - disse-lhe a bruxa - sei que és muito desgraçada.Queres vingar-se de Mun-Cay?Vende-me a tua alma e juro-te que,embora Mun-Cay não te ame,não amará a outra mulher.Hoan-Lan,voltou à sua casa,que lhe parecia um cárcere.Saía para os bosques a distrair sua pena,mas sempre em vão.Um dia,vendo ao longe seu adorado Mun-Cay,correu para ele e,quando se preparava para abraçá-lo,o jovem foi transformado numa árvore de ébano.Neste momento apareceu a bruxa que,soltando uma gargalhada,lhe disse:Desta maneira o teu amado não pode ser nunca de outra mulher.Bruxa infame,exclamou chorando,a pobre Hoan-Lan - o que fizeste a meu adorado? Devolva-me ou mate-me.Contratos são contratos - replicou a bruxa,rindo satanicamente.Cumpri o que prometi.Mun-Cay,embora nunca te ame,não amará a outra mulher.Prometi e cumpri.A tua alma me pertence.Hoan-Lan,abraçada ao pé da árvore, clamava desesperadamente a seu tronco imóvel.Perdoa-me,Mun-Cay.Tem para mim uma só palavra de amor,de indulgência e compaixão. Não vês como me arrasto aos seus pés, como te abraço, como sofro!Mas a árvore nada respondia. A jovem ali ficou por muito tempo. Uma manhã passou por ali um gênio que se compadeceu da sua dor.Acercando-se dela, pôs-lhe um dedo na testa e disse: Mulher, procedeste muito mal. Foste volúvel até a crueldade e ingrata até a malvadez.Procedeste muito mal.Mas tua dor purificou a tua alma.Estás perdoada e vais deixar de sofrer.Antes que a bruxa venha buscar a tua alma,vou transformar-te numa flor.Ficarás sendo,no entanto,uma flor esquisita e requintada,que dê a impressão do que foi a tua vida maldosa.Quem vir as tuas pétalas facilmente adivinhará o que foi o teu espírito, caprichoso,volúvel,cruel,e a tua preocupação constante pela elegância.Concedo-te um bem:não te separarás do bem que adoras e viverás da sua seiva,sempre parasita do teu amado.Assim falou o poderoso gênio.E,quando falava,a túnica rósea de Hoan-Lan ia empalidecendo e tornando-se de uma delicada cor lilás.Os olhos da jovem brilharam como pontos de ouro e as suas carnes tomaram a tonalidade do nácar.Os seus formosos braços enrolaram-se na árvore na derradeira súplica.E assim apareceu a primeira orquídea do mundo,segundo a lenda do Anam.(Muitas pessoas acreditem erroneamente que as orquídeas são parasitas,no entanto elas apenas usam o hospedeiro para fixar suas raízes).

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