Recentes avanços da ciência vêm aumentando o tempo de vida
das pessoas. O ser humano a cada ano vive mais, é mais saudável, tem melhor
qualidade de vida e é capaz de executar atividades físicas, intelectuais e
profissionais que, até então, com a mesma idade, não conseguia executar. Isso é
muito bom! Entretanto, a capacidade reprodutiva das mulheres praticamente nada
evoluiu, impedindo que possam ter filhos numa idade mais avançada. Em
contrapartida, os homens, mesmo perdendo parte de sua fertilidade após os
cinqüenta anos, continuam tendo a possibilidade de gerar filhos em idades
bastante avançadas (leia mais sobre o assunto em “A perda da fertilidade no
decorrer da idade”). Ique na imagem para ampliar. Esta pirâmide mostra o
aumento da população de mulheres e homens entre 44 e 54 anos nas últimas décadas.
Para estas mulheres, atualmente, é quase impossível ter filhos em decorrência
do envelhecimento dos óvulos e, nestes casos, a melhor alternativa ainda é a ovodoação.
Poderiam engravidar com seus próprios óvulos se, antecipadamente, tivessem
preservado a fertilidade ou utilizassem as técnicas prometidas para o futuro de
“prorrogar” a idade fértil. Há milhões de anos a rotina do funcionamento
ovariano permanece a mesma: a menina na puberdade inicia as suas menstruações
com cerca de 300 mil óvulos disponíveis e a cada ciclo menstrual, para um óvulo
que atinge a ovulação, mil são perdidos, fazendo com que ao redor dos 50 anos
dificilmente existam óvulos capazes de serem fecundados. A mulher se torna
praticamente incapaz de engravidar com os próprios óvulos. É o fim do seu
estoque, o fim da “reserva ovariana”. Por isto, cientistas do mundo inteiro vêm
trabalhando com o objetivo de preservar e prorrogar a função reprodutiva dos
ovários. Estes estudos poderão ajudar muitas mulheres como, por exemplo,
aquelas com histórico familiar de menopausa precoce, pois, com os novos
avanços, poderão tomar precauções antes do término antecipado da função
reprodutiva. Outras situações possíveis para se indicar técnicas de preservação
da fertilidade são pacientes acometidas por algumas doenças degenerativas ou
tratamentos de câncer (cirurgias, quimioterapia e radioterapia), que podem
“destruir” o ovário e antecipar a menopausa. Existem ainda as mulheres que
desejam ou “precisam” ter filhos numa idade avançada e, por isso, precisam
preservar a fertilidade para os anos futuros. Há muitos fatores que motivam uma
mulher a buscar a maternidade tardiamente. Algumas são obrigadas pelo destino
afetivo, outras, pela vontade de atingir um status profissional acabam
retardando o casamento ou a gravidez e há ainda aquelas que, mesmo já tendo
filhos, têm um novo relacionamento após um casamento desfeito e desejam desta
nova união a chance de gerar outros filhos. Já existem alternativas para
preservar a fertilidade ao longo dos anos: o congelamento de óvulos e o de
tecido ovariano vem sendo utilizados com alguma freqüência. O congelamento de
óvulos é, atualmente, mais comum e com o maior índice de sucesso. O de tecido
ovariano ainda tem relevância discreta nos resultados, mas, a cada dia,
apresenta melhores perspectivas. Outras possibilidades, ainda em estudo, são a
utilização de drogas que impedem a “perda” dos óvulos no decorrer dos anos,
isto é, a diminuição da reserva ovariana seria bloqueada por medicamentos e com
isto a fertilidade seria prorrogada por tempo indeterminado; e a promessa do
uso das células-tronco para a produção de novos óvulos, que poderá levar o
ovário a continuar produzi-los em uma fase adiantada da vida da mulher quando
normalmente, já não os produziria. Isto deverá ser muito interessante e útil,
desde que não haja exageros que possam ferir princípios éticos.COMO PRESERVAR A FERTILIDADE NA MULHER CONGELAMENTO DE
ÓVULOSO congelamento de óvulos é uma boa alternativa para a preservação da
fertilidade e deve ser indicado em casos específicos. Embora seja considerada,
por alguns, uma opção em fase experimental, como a própria Sociedade Americana
de Medicina Reprodutiva (ASRM) declarou no passado, o alto índice de resultados
positivos nos últimos anos vêm demonstrando que este conceito está prestes a
ser modificado. Atualmente, o congelamento de óvulos tem maior chance de
sucesso quando realizado com óvulos maduros e por isso, é necessário que a
paciente passe por um processo idêntico ao da Fertilização in Vitro: os ovários
precisam ser estimulados com drogas indutoras da ovulação, o crescimento dos
folículos ovulatórios deve ser acompanhado pelo ultrasom para, posteriormente
os óvulos serem coletados sob sedação (leia mais sobre o assunto em “Quando nem
tudo deu certo”). Em seguida são encaminhados para o laboratório de reprodução
humana, desidratados e congelados ouvitrificados. A taxa de sucesso desta
técnica está ao redor de 30%. Indicações para o congelamento de óvulos 1)
Mulheres que serão submetidas a tratamentos oncológicos. Pacientes que desejam
a maternidade e irão passar por tratamentos agressivos com quimioterapia e/ou
radioterapia poderão, antes do tratamento, ter os seus óvulos congelados. É
fundamental nestes casos que se observe a certeza do NÃO agravamento da doença
pelos hormônios indutores da ovulação. Uma opção, também interessante, é
coletar os óvulos ainda imaturos, sem o uso de hormônios, para depois serem
maturados e congelados, nesta ordem ou na ordem inversa. Esta possibilidade é
restrita a casos especiais (IVM -in vitro maturation ou maturação in vitro –
veja capítulo 14 “Preservação da fertilidade em pacientes com câncer”). 2
)Mulheres solteiras com pouco menos de 35 anos preocupadas com a diminuição
progressiva de sua fertilidade nos próximos anos.Esta é uma realidade cada vez
mais comum. A cada dia as mulheres casam e têm filhos mais tarde. Já não é
novidade que, cada vez mais, as mulheres buscam o seu espaço profissional,
priorizam e investem na sua carreira adiando a concretização de sua vida
afetiva e o planejamento de ter filhos. A maioria tem consciência que após os
35 anos a sua capacidade reprodutiva diminui e por isso, muitas se afligem
frente a esta realidade. O congelamento de óvulos é uma saída que pode
minimizar esta angústia, pois, nem sempre o parceiro ideal para ser o pai de
seus filhos surge no momento que desejam. Caso num futuro ainda próximo esta
mulher encontre “a sua alma gêmea” ela poderá tentar a gravidez naturalmente
podendo descartar os óvulos que foram anteriormente congelados para a
constituição da sua família. Entretanto se este homem surgir numa idade mais
avançada, quando estiver próxima a menopausa, os óvulos congelados no passado
poderão ser fertilizados e darão uma chance maior de gestação além do menor
índice de abortamento e malformação, se comparados com um tratamento feito em
idade mais avançada.Clique na imagem para ampliar Fig. 2 – Esta figura
demonstra a mudança do comportamento da mulher nos últimos anos na busca do
primeiro filho. Cada vez mais elas procuram a gravidez numa idade mais
avançada. Demonstra também a perda progressiva da fertilidade da mulher após os
35 anos. Ao se aproximar dos 45, a fertilidade é mínima. A área sombreada
corresponde às mulheres que podem não ter conseguido engravidar devido ao
avanço da idade. Mulheres com histórico familiar de menopausa precoceEstas
mulheres poderão congelar seus óvulos preventivamente. Na época que desejarem
ter filhos, caso seu ovário não esteja funcionando adequadamente, elas poderão
utilizar os óvulos que foram congelados anteriormente. Caso contrário, se os
ovários estiverem funcionando plenamente, poderão engravidar naturalmente. Fertilização
in vitroAlgumas vezes, pode haver um número maior de óvulos que, provavelmente
formarão vários embriões. Como apenas parte será transferida para o útero
(máximo de 2 ou 3) os outros deverão ser congelados.Caso ocorra gestação e o
casal não queira mais ter filhos haverá problemas éticos, pois embriões são
considerados seres vivos e não poderão ser descartados. O congelamento de
óvulos resolve este problema, pois no futuro, óvulos são células, não são seres
vivos e podem ser descartados se não forem utilizados. Se for realizado o
congelamento de embriões, e o casal não mais os quiser, a única possibilidade
será doá-los para outro casal ou pesquisa científica
(células-tronco?).CONGELAMENTO DE TECIDO OVARIANOO congelamento de tecido
ovariano é outra alternativa para pacientes com câncer que não podem esperar o
tempo necessário para a preparação dos ovários para a indução da ovulação e
retirada dos óvulos. São casos que a mulher necessita de quimioterapia imediata
ou tem contra-indicação absoluta de receber hormônios, pois prejudicariam a
evolução da doença. Na maioria das vezes, opta-se pela retirada de um dos
ovários ou parte dele, que será fragmentados, divididos em pequenos grupos e
congelados. Quando a paciente estiver curada da doença estes fragmentos poderão
ser reimplantados no corpo humano em lugares diferentes, como por exemplo, sob
a pele, no braço ou abdômen, junto ao ovário remanescente (quando só um pedaço
dele foi retirado) ou no outro ovário que permaneceu intacto no organismo.Já
existem casos publicados de gravidez utilizando-se esta técnica.Quando
comparamos a eficácia do congelamento de óvulos com a de ovário, devemos
ponderar outras vantagens e desvantagens de cada técnica.Se a primeira exige
aplicação de hormônios em altas doses, a segunda necessita de internação,
anestesia geral e uma intervenção minimamente invasiva Videolaparoscopia). Os
riscos e benefícios de cada uma devem ser avaliados. CONGELAMENTO DE EMBRIÕESÉ
indicado somente em casos extremos para casais que vivem em união estável e um
deles for acometido de doença grave curável e o tratamento coloca em risco a
fertilidade (do homem ou da mulher). Apresenta resultados muito bons, mas tem o
inconveniente, já comentado anteriormente, de não ser possível o descarte, caso
não haja mais interesse de gravidez. O congelamento de embriões surgiu na
metade da década de 80 e por isso possui uma longa história dentro da medicina
reprodutiva. Hoje, comprovadamente, é um procedimento já bastante seguro e
muito utilizado nos centros de reprodução humana espalhados pelo mundo. Neste
campo, existe uma variedade de leis e regras que coordenam a vida do embrião as
quais são variáveis de acordo com o país. Mas, de um modo geral, o congelamento
de embriões é aceito pela maioria. O tempo que os embriões podem ficar
congelados (a -196ºC em nitrogênio líquido) parece afetar pouca a viabilidade
embrionária, já existindo casos de gestações após um período de oito anos de
congelamento, contudo, ainda existem dúvidas quanto ao período máximo que os
embriões poderiam agüentar. Mesmo que ainda existam dúvidas com relação aos
processos de congelamento, o número de procedimentos realizados até agora e o
índice de sucesso por tentativa mostram que este é um procedimento que oferece
boas chances de sucesso e deve ser utilizado quando for necessário. No homem O
congelamento do sêmen é muito bem aceito e oferece ótimos resultados de sucesso
de gravidez. O congelamento de fragmentos de testículos só é realizado em
situações extremas como, por exemplo, o câncer de puberdade. Qualquer uma das
possibilidades não apresenta tempo nem limite para serem utilizadas. Podem
ficar congelados por anos seguidos. É POSSÍVEL PARAR O RELÓGIO DA FERTILIDADE?
Muitos estudos vêm sendo feitos com este intuito e representam promessas que,
num futuro próximo, poderão se tornar realidade. Gene BaxPesquisas realizadas
por Jonathan Tilly da faculdade de medicina de Boston, descobriram o gene
batizado de BAX, responsável pela atresia dos óvulos em macacos. Se houver
semelhança com o ser humano e a possibilidade da função deste gene ser
bloqueada, talvez, a falência ovariana possa ser adiada. Sphingosine -1 –
Phosphate (S1P)É uma substância capaz de bloquear a morte celular. Se não
houver morte dos óvulos, eles poderão permanecer nos ovários por muitos anos e
não existirá a menopausa. Seria a droga perfeita! Mas ainda é experimental. Tem
sido utilizada em experiências, bem-sucedidas, com macacos. Pode ser injetada
tanto na corrente sangüínea como localmente, no ovário, entretanto, ainda não
foi testada em seres humanos. O inconveniente do uso sistêmico (injetado na
corrente sangüínea) é a ação também em outros setores do organismo como, por
exemplo, o sistema imunológico, podendo levar à conseqüências desastrosas pela
diminuição exagerada das defesas do corpo humano.Células-tronco. Alguns estudos
em animais demonstram a presença de células-tronco no interior dos ovários.
Nestes experimentos, foram usadas drogas que destruíram estas células e, em
conseqüência, os folículos do ovário desapareceram. Se houver semelhança com o
ser humano, as células-tronco existentes nos ovários poderiam ser conservadas e
estimuladas, produzindo novos óvulos por tempo indeterminado, e assim, a
menopausa adiada. Novas pesquisas estão em andamento.
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