Estudo indica que 66% dos
portadores de transtorno bipolar no País não conseguem obter um diagnóstico
preciso da doença, geralmente confundida com depressão, levando ao consumo de
remédios inadequados que só pioram o quadro. Três anos se passaram até que o
técnico em eletrônica Alexandre Vilaça, de 36 anos, descobrisse sua
bipolaridade. Antes disso, foi diagnosticado com depressão, uma falha na
identificação da doença que acomete 66% dos pacientes brasileiros com
transtorno de humor bipolar, distúrbio psiquiátrico caracterizado por
flutuações de humor em que o indivíduo alterna fases de hiperatividade com
períodos depressivos. Quando erroneamente diagnosticados, muitos pacientes bipolares
são medicados com antidepressivos, o que pode piorar ainda mais o quadro
psiquiátrico. “Nestes casos, os medicamentos fazem com que o paciente fique
agitado e instável, prejudicando muito o relacionamento interpessoal, familiar
e profissional dessas pessoas”, diz o psiquiatra Diogo Lara, professor da
Faculdade de Biociências da PUC – RS e coordenador do Ambulatório de
Bipolaridade do Hospital São Lucas. Segundo ele, confusões e erros de
diagnóstico ocorrem principalmente com os pacientes bipolares do tipo II, que
não costumam ter os episódios de mania (hiperatividade) e depressão bem
marcados. As fases de prostração predominam – daí a confusão com os quadros
puramente depressivos. O panorama brasileiro do distúrbio bipolar foi
apresentado durante do XXIX Congresso Brasileiro de Psiquiatria, que terminou
ontem. Ele representa um recorte nacional da doença e faz parte de uma pesquisa
mais ampla, feita em 11 países, com mais de 60 mil pessoas, divulgada neste ano
pela publicação científica Archives of General Psychiatry. No mundo, o estudo
apontou que a dificuldade em diagnosticar a doença também é grande: cerca de
57% dos pacientes não são identificados corretamente e, por isso, não recebem o
acompanhamento de um especialista. Para mudar essa situação, os médicos
defendem uma atualização nos critérios de diagnóstico do distúrbio, que são de
1994. O objetivo é que a nova edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM – 5), editado pela Academia Americana de Psiquiatria e
usado como referência mundial na área, inclusive no Brasil, traga elementos que
permitam o diagnóstico precoce dos pacientes com transtorno bipolar. Na maioria
das vezes, a doença é confundida com depressão, como no caso de Vilaça. Cada
fase do humor bipolar pode durar meses e, geralmente, é apenas no ciclo
depressivo que o paciente busca ajuda. A falta de medicação específica contra a
bipolaridade é prejudicial porque acentua a morte das células cerebrais. Além
disso, os pacientes ficam mais sujeitos ao abuso de álcool e outras drogas.
“Quanto mais tardiamente o indivíduo for tratado, mais perdas neuronais vão
ocorrer”, diz Giuliana Cividanes, mestre em psiquiatria pela Universidade
Federal de São Paulo. Com base em sua experiência clínica, ela diz que as
pessoas demoram de 10 a 15 anos para se conscientizar sobre a doença e, então,
iniciar o tratamento. A identificação do transtorno é ainda mais difícil nos
mais jovens, na opinião da psiquiatra Laura Helena Andrade, do Instituto de
Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (USP). “É difícil diagnosticar porque pode ser
confundido com características da personalidade e, principalmente, com a crise
de comportamentos da adolescência, se o paciente estiver nessa faixa etária”,
explica. Dados conservadores A psiquiatra Laura participou do principal estudo
epidemiológico sobre bipolaridade no País, em 1992, envolvendo três capitais:
Brasília, São Paulo e Porto Alegre. Naquele momento, foi encontrada uma
prevalência de 2,5% do distúrbio na população. Mas a própria pesquisadora
admite que, hoje, esse número pode ser considerado “conservador”. Pesquisas
internacionais recentes apontam, afirma Laura, uma taxa em torno de 6%. O
psiquiatra Lara concorda com a percepção da especialista da USP. “Atualmente,
pesquisas já trabalham com números entre 6% e 7%”, completa.
Cada vez que me internam saio com um diagnóstico....por fim eu mesma acho que sou borderline e não bipolar...!!! Estou lendo muito pra eu mesma ajudar a psiquiatra, pois no SUS troca muito de médico e qdo um está acertando..., vem outro e troca tdos os remédios! Enfim, não é fácil não saber o que se tem de fato!
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