Obesidade é uma doença de causa multifatorial, complexa,
definida como aumento de tecido adiposo no organismo. É uma doença universal,
rônica, de caráter progressivo, considerada preocupante para a saúde pública. Nos
últimos anos, deixou de ser considerado um problema estético e passou a ser
reconhecida como uma doença que pode trazer um risco maior de várias
complicações específicas, como Diabetes mellitus, hipertensão arterial,
dislipidemia (elevação de gordura no sangue), doenças articulares, esteatose
hepática (infiltração de gordura no fígado), doenças do coração, etc. A
obesidade é uma enfermidade conhecida há séculos e sempre esteve associada ao
prazer, aos hábitos alimentares e comportamentais. Acredita-se que as formas
mais comuns da obesidade humana desenvolvam-se a partir da interação de
diversos genes, de fatores ambientais e do comportamento do indivíduo. O estilo
de vida, provavelmente, é que vai determinar se uma pessoa será ou não obesa,
mesmo que tenha edisposição genética. Como ainda não podemos interferir nos
genes da obesidade, existem evidências científicas indicando que o controle
alimentar com o auxílio da atividade física regular e técnicas de modificação
comportamental são suficientemente efetivos para o controle do peso corporal. É
importante saber que mesmo perdas modestas de peso e manutenção, ou seja, as
reduções da gravidade da obesidade já trazem benefícios significativos para a
saúde. Sabe-se que perdas de peso de cerca de 5% a 10% melhoram e reduzem o
risco de complicações da pressão alta, do diabetes, da dislipidemia, etc.
Portanto, não se deve pensar como sendo o objetivo do tratamento somente
normalizar o peso corporal, mas, sim reduzir a gravidade da obesidade. A dieta
para o tratamento da obesidade deve ser equilibrada, contendo todos os
nutrientes: carboidratos, proteínas, gorduras, sais minerais, vitaminas, fibras
vegetais. Os carboidratos são os elementos energéticos, e devem representar
cerca de 50% a 55% do total diário de calorias, constituindo a base da
alimentação. Devemos dar preferência aos elementos ricos em fibras, como os
cereais, arroz integral, pão, frutas frescas, vegetais e leguminosas. Devem-se
evitar os açúcares simples, refinado, cristal e mascavo, além de mel e doces. As
proteínas contribuem para a construção e a reparação dos tecidos do organismo,
devendo representar cerca de 15% a 20% do total de calorias diárias. São
encontradas principalmente nos alimentos de origem animal, como o leite e derivados,
ovos, carnes, frango e peixes, além de vegetais como as leguminosas: soja,
feijão, ervilha, etc. Já as gorduras devem ser responsáveis por 25% a 30% do
total diário das calorias e devemos preferir as de origem vegetal, como óleos
de girassol, canola, milho e margarinas. Vale ressaltar a importância de
evitarmos as gorduras de origem animal, como a banha de porco e peles em geral.
Quanto à atividade física, sabemos que proporciona sensação de bem-estar e
melhora a auto-imagem, além de auxiliar o controle do estresse e do peso. Não
há necessidade de a atividade física ser intensa, bastando ser de intensidade
moderada e devendo ocorrer na maior parte dos dias da semana, de forma a
atingir pelo menos 30 minutos por dia. Alguns exemplos de atividades físicas
são: caminhar, nadar, utilizar mais escadas, etc. O tratamento medicamentoso,
que chega a ser atraente e desperta interesse, é admissível e válido sob
supervisão médica desde que indicado para facilitar a adesão do paciente à
mudança alimentar e comportamental.Na prática clínica vem ocorrendo o reconhecimento crescente
da indicação de remédios para o controle da obesidade. As comprovações
científicas atestam a sua utilidade quando realizada de maneira racional e
coerente. Não podemos mais negligenciar o tratamento medicamentoso ntiobesidade
e sim reconhecer sua legitimidade, já que existem evidências convincentes que
justificam sua utilização. O tratamento medicamentoso não cura a obesidade,
portanto sua indicação é justificada somente quando associada à orientação
nutricional e à mudança no estilo de vida. Certas pessoas obesas e com
obesidade grave, também chamada de obesidade mórbida, têm um risco maior de
apresentarem as complicações acima citadas e outras mais, como calculose de
vesícula biliar, apnéia do sono, alterações da coagulação sanguínea, elevação
de ácido úrico com ou sem gota, etc., havendo freqüentemente necessidade de
intervenção cirúrgica (redução do estômago), que deve ser considerada somente
após repetidas falhas de todos os tratamentos clínicos anteriormente
efetuados.O diagnóstico de obesidade na prática clínica é calculado pelo IMC
(índice de massa corpórea), que é o peso dividido pelo quadrado da altura.IMC =
PESO (kg)/ALTURA² (m)Entretanto, o IMC possui algumas limitações por não distinguir
gordura central ou visceral (abdominal) de gordura periférica (quadril e coxa),
e por não distinguir massa gordurosa de massa magra (músculo).A obesidade
central ou visceral (abdominal) apresenta mais correlação com as complicações
cardíacas (infarto do miocárdio, hipertensão arterial) e metabólicas (Diabetes
mellitus e dislipidemia). Já a obesidade periférica (quadril e coxas) está mais
associada a complicações circulatórias e estéticas (varizes, tromboses,
culotes) e a problemas ortopédicos. Diante disso, a medição da circunferência
abdominal pode predizer um risco maior de complicações associadas à obesidade. Vale
a pena lembrar que certos estudos mostram um risco aumentado de câncer
relacionado à obesidade, principalmente câncer de vesícula biliar, de mama, do
endométrio (útero) e de próstata. As mulheres obesas têm maior chance de
apresentar infertilidade e, quando grávidas, maior probabilidade de hipertensão
e diabetes gestacional. A obesidade, além de afetar a saúde física, reduzindo a
qualidade e a expectativa de vida, compromete também a saúde psicológica,
podendo levar a comportamentos alimentares patológicos chamados de transtornos alimentares.
Quando mencionamos transtornos alimentares, logo vem à mente a lembrança da tão
falada dupla: anorexia e bulemia nervosas. Anorexia Nervosa. Trata-se de um
transtorno alimentar de extrema gravidade e difícil tratamento, que geralmente
incide na faixa etária dos 13 aos 20 anos, e ocorre com mais freqüência em
mulheres do que em homens. A anorexia nervosa possui taxa de mortalidade maior
em relação a outros distúrbios psiquiátricos. Ela é mais comum nas classes sociais
médias e altas. As pessoas que valorizam em excesso a aparência e o peso são
mais vulneráveis à doença (mais comumente encontrada em modelos, ailarinas,
cantores, atrizes, etc.). Também se sabe que alguns antecedentes podem
influenciar no desenvolvimento da doença, como questões familiares, fatores
psicológicos e socioculturais. A característica principal da anorexia nervosa é
a restrição acentuada do alimento ingerido e, reqüentemente, a prática
excessiva de exercícios. É importante ressaltar que muitas vezes a paciente
resiste em colaborar para o diagnóstico da anorexia nervosa e também para o seu
tratamento, retardando a possibilidade de obter uma evolução mais favorável do
seu quadro nutricional e talvez até de salvar sua própria vida. As pacientes
geralmente apresentam um quadro de desnutrição grave, que se traduz fisicamente
no amarelamento da pele do corpo, na queda dos cabelos, na atrofia das mamas,
pele e cabelos secos e quebradiços, além de algumas vezes apresentarem
distúrbio de comportamento mental com risco de suicídio. Ocorre que pessoas com
anorexia nervosa podem apresentar personalidade que tende ao perfeccionismo, à
inibição e a um transtorno obsessivo. É interessante atentar para as mulheres
que freqüentam clínicas de fertilidade, pois um porcentual significativo das
anoréxicas pode estar omitindo o transtorno alimentar, e quando elas conseguem
engravidar, sua má nutrição pode prejudicar o bebê. Portanto, essas gestações
devem ser caracterizadas como de alto risco. Um estudo sobre efeitos
reprodutivos em anorexia nervosa demonstrou que a taxa de prematuridade foi
duas vezes maior que a esperada, e que a mortalidade perinatal foi aumentada em
seis vezes. O diagnóstico é baseado em quatro critérios: 1) Recusa em manter o
peso dentro de uma faixa normal para a altura e idade. 2) Medo intenso de
ganhar peso ou tornar-se obesa, mesmo estando com o peso abaixo do normal.3)
Deturpação acentuada da imagem corporal com negação do baixo peso atual.4)
Ausência de menstruação por pelo menos três ciclos menstruais consecutivos
(amenorréia) em decorrência da desnutrição acentuada.Muito provavelmente,
dentre os fatores socioculturais, a exigência da sociedade atual da obtenção de
um corpo magro como padrão estético tem levado muitas mulheres a optarem por
dietas rígidas, exercícios físicos excessivos e outros comportamentos nada
saudáveis, que podem precipitar o início de transtornos alimentares.O
tratamento da anorexia nervosa consiste principalmente na reabilitação
alimentar e, quando indicado, na utilização de antidepressivos e psicoterapia. Bulemia
Nervosa. Diz respeito a um transtorno alimentar caracterizado por crises em que
o indivíduo come de maneira compulsiva e, em seguida, procura um comportamento
compensatório inadequado para prevenir o ganho de peso. Ao contrário dos
pacientes com anorexia nervosa, os indivíduos com bulemia apresentam-se com
peso normal ou são até pré-obesos. O diagnóstico é baseado em episódios
recorrentes em que a pessoa come compulsivamente, com a sensação de total perda
de controle, tanto da quantidade de alimento ingerido quanto da velocidade de
ingestão, e ainda da capacidade de parar de comer. Estes procedimentos são
denominados episódios bulímicos, e são seguidos de um comportamento
compensatório que pode ser de dois tipos: purgativo e não-purgativo. O tipo
purgativo é aquele em que a pessoa provoca vômitos ou faz uso indevido de
laxantes ou diuréticos. Já no tipo não-purgativo o indivíduo envolve-se com
exercícios físicos excessivos e dietas rígidas ou jejum. As conseqüências
físicas e psicológicas da bulemia podem ser também de alta gravidade, chegando
a ameaçar a vida das pessoas comprometidas pela doença. Em pacientes que
induzem o vômito, pode-se encontrar uma calosidade ou machucado no dorso da
mão, decorrente do atrito da pele com os dentes incisivos durante a indução dos
vômitos. A freqüência e a intensidade dos vômitos também podem levar a uma
perda acentuada de potássio sanguíneo (hipocalemia), com risco de arritmia
cardíaca e morte súbita. Felizmente, ao contrário dos pacientes com anorexia
nervosa, os bulímicos costumam procurar mais freqüentemente auxílio médico,
possivelmente por sentirem-se incomodados com seus comportamentos alimentares. O
tratamento indicado na bulimia nervosa é a utilização da psicoterapia (terapia
cognitivo-comportamental) juntamente com os antidepressivos, não deixando de
lembrar a importância da informação e educação dos pais do paciente, dos
parentes e companheiros, enfim, do envolvimento de todos no auxílio da
recuperação e do tratamento do indivíduo. Cirurgia da Obesidade. Os tratamentos
cirúrgicos para obesidade, as chamadas cirurgias bariátricas, são indicadas em
pacientes com índice de massa corpórea superior a 40kg/m2. São pacientes que
tentaram tratamento clínico e não obtiveram resultado satisfatório. Aqueles com
índice entre 35 e 40kg/m2, que tenham doenças associadas à obesidade e que
melhorarão com a perda de peso também são candidatos à cirurgia. Os candidatos
à cirurgia devem realizar avaliação clínica e psicológica e participar de
reuniões para esclarecimentos. Estas cirurgias não são isentas de riscos e as
vantagens devem ser pondenradas diante do médico especialista. Os três
principais tipos de cirurgia são: marca-passo gástrico, banda gástrica
ajustável e gastroplastia em Y de Roux – convencional ou por laparoscopia
(cirurgia de Capella) e derivação ileopancreática – duodenal Switch
Scorpinaro.A indicação de cada intervenção vai depender de cada caso.Dicas do
autor do livro para manter o peso ideal. a) Procure um profissional qualificado
que possa elaborar uma dieta compatível com seu estilo de vida. b) Evite fazer
compras em supermercados quando estiver com fome ou acompanhada de alguma criança.
c) Beba água – no mínimo dois litros por dia. Ela ajuda a acelerar o seu
metabolismo, diminui a retenção hídrica e previne a prisão de ventre. d)
Fracione sua alimentação diária de três em três horas. Entre as grandes refeições
(café da manhã, almoço e jantar) intercale frutas ou barras de cereal. e) Não
coma carboidratos após as 18 horas. Somente proteínas, verduras e legumes. f)
Coma sempre sentado à mesa, nunca em pé, no quarto ou na sala vendo televisão. g)
Coma devagar. Mastigar bastante dá tempo de ter a sensação de saciedade. h) Não
coma enquanto estiver fazendo outras coisas como: dirigindo, assistindo à TV ou
lendo. Concentre-se e preste atenção no que está comendo. i) Faça exercícios –
recomenda-se um programa compatível com a sua condição física. j) Lembre-se:
primeiro você faz os seus hábitos, depois eles fazem você. A pirâmide alimentar
adaptada à população brasileira (Philippi, 1999) foi planejada para uma dieta
de 2000 cal. As porções foram estabelecidas para os diferentes grupos
alimentares com definição dos valores dos alimentos em gramas, calorias e
medidas usuais de consumo, para facilitar o entendimento e transmissão das orientações.
A dieta padrão de 2000 cal tem 8 grupos alimentares:1) Grupo do arroz, pão, massa,
batata e mandioca – 6 porções (1 porção = 150 cal).2) Grupo das frutas – 3
porções (1 porção = 70 cal). 3)
Grupo dos legumes e verduras – 3 porções (1 porção = 15 cal).4) Grupo das
carnes e ovos – 1 porção = 190 cal.5) Grupo do leite, queijo e iogurte – 3
porções ( 1 porção = 120 cal).6) Grupo dos feijões – 1 porção = 55 cal.7) Grupo
dos óleos e gorduras – 1 porção = 73 cal.8) Grupo dos açúcares e doces – 1
porção = 110 cal.A soma dos vegetais (frutas, verduras e legumes) deve
alcançar, no mínimo, 400g.Para o planejamento das dietas saudáveis deve ser
incorporado o conceito de escolha inteligente, ou seja, diminuir o consumo de
gorduras e açúcares e aumentar o consumo de frutas, verduras, legumes, grãos
integrais, leite, queijo e iogurte desnatados. O consumo adequado de todos os
grupos de alimentos contribui para a saúde em geral.
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