terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Percepção do funcionamento familiar entre familiares de mulheres sobreviventes ao câncer de mama: diferenças de gênero


A confirmação do diagnóstico de câncer de mama leva a mulher afetada e a sua família a se depararem com difíceis decisões e enfrentamentos. Essa patologia torna-se grande desafio na vida de uma família, pois nenhum dos membros permanece intocado, ocasionando, por vezes, mudanças nas configurações estabelecidas entre eles, o que impõe importante desafio à habilidade do grupo familiar de se conservar relativamente organizado enquanto se ajusta às necessidades diversas. O profissional de saúde deve estar sensibilizado a ponto de reconhecer a família como um fenômeno complexo que necessita de apoio, sobretudo em situações que apresentam o câncer de mama, pois demanda mudanças significativas na dinâmica familiar. O cuidado centrado na família envolve todos os seus membros e importância especial é dada às relações estabelecidas entre eles, entendidas como um dos determinantes do processo saúde/doença. Esclarecimentos sobre a patologia e o tipo de tratamento a ser seguido favorecem a promoção da saúde, tornando as pacientes mais independentes para o cuidado de si mesmas e para a realização de outras atividades relacionadas ao ambiente e à família. É comum observar na unidade familiar dificuldades em relação ao estabelecimento de condutas e comportamentos que promovam o equilíbrio familiar, revelando que a família necessita atentar para identificar situações conflitantes, possivelmente expostas pelos seus membros para que não venha emergir discórdias irreparáveis no futuro. Estudo aponta que, quando um membro do grupo familiar é acometido pelo câncer de mama, a dinâmica familiar é alterada. E a experiência profissional tem mostrado que a participação e o ajustamento dos familiares à nova condição de saúde familiar, devido ao câncer de mama em um de seus membros, se dão de forma diferenciada entre o gênero masculino e o gênero feminino daquela família. A experiência ainda tem mostrado que nesse processo de adaptação familiar à nova condição de saúde coexiste rígida divisão de papéis sexuais entre seus membros e, muitas vezes, cabe ao gênero feminino a maior carga de responsabilidade na manutenção da harmonia familiar. A literatura apresenta-se bastante escassa quando se busca estudar as relações entre o ajustamento familiar, após o câncer de mama, e a participação de familiares de acordo com o gênero. Nesse sentido, trazer a ótica de gênero para os estudos sobre dinâmica familiar de membros com câncer de mama possibilita desenvolver conhecimentos concretos sobre a posição das mulheres naquela realidade e visualizar as relações de igualdade e diferença entre os sexos no funcionamento familiar, tendo em vista que os gêneros masculinos e femininos assumem posições e papéis diferenciados no processo de cuidar da família. O conceito gênero será entendido na presente pesquisa como o processo pelo qual a sociedade classifica e atribui valores e normas para homens e mulheres, construindo, assim, as diferenças e hierarquias sexuais, delimitando o que seriam papéis masculinos e femininos. Dessa forma, a interpretação acerca da diferença entre os sexos pode apontar para uma relação de complementaridade ou de hierarquia, a depender da cultura. Incorporar a família na unidade de cuidado à mulher com câncer de mama, portanto, se faz necessário e urgente, e focalizar a atenção nas relações sociais de gênero, estabelecidas entre os membros familiares no processo de adaptação à nova condição de vida familiar pode ser estratégia importante de cuidado. Sendo assim, o presente estudo apresenta a seguinte questão norteadora: a percepção sobre a dinâmica familiar entre os familiares de sobreviventes do câncer de mama é distinta entre os gêneros masculinos e femininos? Os resultados deste estudo poderão proporcionar às enfermeiras um olhar mais crítico sobre a relação do ajustamento familiar de sobreviventes ao câncer de mama com questões mais amplas, nas quais seus membros, homens e mulheres, modelam o desenvolvimento dos papéis sociais em função de determinações sociais, sexuais e culturais.



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