quinta-feira, 29 de março de 2012

A mentira como uma das perversões da sociedade



Na atualidade a mentira constitui um dos principais predicados das relações sociais, instituindo-se como valor eticamente perverso e destrutivo em todos os níveis da vida dos homens. Demonstra-se escamoteada como ideologia ou é expressa cinicamente como “mentira manifesta”, normatizando as relações entre os indivíduos sob o signo da hipocrisia, do impedimento de trocas entre indivíduos diferentes (unificação narcísica) e seu poder de coerção promove a simbiose da pseudo-individuação entre os sujeitos. A mentira se revela/desvela sob diferentes matizes desde a ideologia da indústria cultural, passando pela mentira manifesta, pelas sutilezas enganosas e opressivas da burocracia, por certas justificativas cínicas de segredo ou exigência de sigilo até as formas de impedimento ostensivamente destrutivas de amostra de certas formas de desejar, sentir, pensar e agir e/ou de expressões de autenticidade e respeito à alteridade de indivíduos distintos. Assim, a mentira transforma a relação entre os indivíduos em inalterabilidade e farsa. O seu caráter destrutivo assenta-se fortemente na cumplicidade dos indivíduos que, mesmo inconscientemente, dão aderência e reproduzem às suas diferentes expressões. Ela tem a sua eficácia garantida pela permeabilidade e maleabilidade da estrutura psíquica, em especial quando vulnerabilizada visto que atingida pela violência social da mentira internalizada. Porém, a sua dimensão perversa e autopunitiva se explicita na falsa verdade com que é acolhida pelo indivíduo e porque interpretada por ele como originária de seu mundo interno (Freud- sentimento inconsciente de culpabilidade e fragilidade egóica). O poder de difusão da mentira entre os indivíduos se constrói por meio da banalização das diferentes expressões da malignidade que atravessa a vida dos homens na atualidade. Em âmbito mundial, a mentira produz e sustenta a atribuição de periculosidade a certos grupos e/ou nações. Para justificar ações pacíficas contra povos com fins prioritariamente econômicos. A violência vem sendo consentida por meio de conivência dos homens que, prejudicados em seu processo de individuação, diferenciação e reconhecimento da realidade desde a infância, se enganam através dos comportamentos ideais adolescente da sociedade contemporânea. As crianças, adolescentes e adultos perderam a oportunidade desse jogo-folguedo coletivo e ficaram proibidas de ter seu sofrimento minimizado no confronto - discernimento da verdade e da mentira porque não mais vivido sob o lúdico e o acolhimento de seus parceiros. “Passam a ser, entretanto, projeto ideal de ser indivíduo numa sociedade de soturnos e regredidos “pensadores” envergonhados.” Novamente a criança e o jovem são o alvo primeiro deste processo psicossocial alienador, pois adestradas desde muito precocemente “para serem criadas para o mundo”, aprendem a viver o afastamento indiferente entre os indivíduos como forma” sadia” de ser tratada. Deixa de receber os cuidados de quem está próximo dela e, sob esta insensibilidade e inconstância afetivas de pais fragilizados socialmente em sua autoridade, crescem desligados do valor do convívio. Seus pais repetem entre eles e com os filhos a ética da "independência", do descompromisso e de vínculos afetivos instáveis.

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